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sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Ex-PM que aterrorizou o extremo da zona Sul nos anos 80 pode ser solto após 20 anos preso



Cabo Bruno, que já cumpriu 1/4 de sua pena, poderá ser beneficiado por decreto assinado pela presidente Dilma Rousseff. Nos anos 80, mais de 50 pessoas foram executadas por ele na zona Sul.

Do Última Hora SP -  17/08/2012 - 15h:58 - Atualizado às 16h:30


Início dos 80, mais precisamente 1982, um opala preto para e um homem armado com uma espingarda calibre 12 efetua vários disparos que atingem certeiramente homens que estavam em um bar no bairro da Pedreira, em Cidade Ademar. Esta narrativa é apenas um dos muitos casos com quase a mesma história que causaram pânico nos bairros periféricos da zona Sul. O nome dos matadores, o conhecido esquadrão da morte.

Pouco tempo depois da chacina da Pedreira, descobriu-se o principal suspeito, Florisvaldo Oliveira, conhecido como Cabo Bruno, soldado da Polícia Militar, lotado na 1ª Companhia do 1º Batalhão, em Santo Amaro, também na zona Sul. Depois de detido e interrogado nas salas do Serviço Reservado (SR) da PM confessou quase 50 execuções, negadas em juri. Suas principais vítimas, segundo relatos de vizinhos, PM´s e amigos do soldado eram pequenos ladrões que incomodavam os comércios e a vizinhança na região da Estrada do Alvarenga. Os bairros que margeiam a Estrada do Alvarenga são bem pobres, nos anos 80 estavam longe de terem um bom asfalto, o que tinha de muito, era a vegetação e a água da Represa Billings, já o que tinha pouco, e, muito por sinal, era a iluminação e o olhar do poder público.

Viver pra aquelas bandas era conviver com o perigo. Ir a um bar a noite por exemplo, era risco eminente de vida. Foram vários que morrerem sem ao menos saber o porquê, caminhando pelas ruas escuras eram alvejados e entravam para as estatísticas de homicídios cometidos nos bairros de Vila Joaniza, Jardim Selma, Jardim Consórcio, Cantinho do Céu, Guacuri e Cocaia.

Foto de arquivo na época que ainda era PM. Foto: Arquivo/Internet
Como as investigações só tratavam de um homem, que era tratado como justiceiro, Florisvaldo foi expulso da PM em 1983. Mesmo não fazendo mais parte da corporação continuou preso no Romão Gomes, presídio especial onde ficam PM´s que cometem crimes, localizado no Horto, zona Norte. Não demorou muito e em junho de 1984 conseguiu sua primeira das três fugas na mesma instituição. Reconduzido, fugiu novamente em setembro de 1987. Pouco tempo depois já estava preso novamente. Mas, em 22 de julho de 1990 conseguiu sua fuga cinematográfica. No mesmo Romão Gomes, Cabo Bruno e mais dois internos renderam o armeiro do local e saíram pela porta da frente levando consigo três metralhadoras Beretta 9 milímetros, três revólveres calibre 38 e 98 projéteis. Desta vez, a caçada ao homem mais temido do extremo da zona Sul perdurou por quase um ano, encerrando-se no bairro da Pedreira. No dia em que preparava sua mudança para uma cidade do interior de São Paulo foi surpreendido por PM´s à paisana. Rendeu-se, e em 29 de maio de 1991 retornou a sua cela no Romão Gomes.

Enquanto cumpria sua pena, que na época era de quase 80 anos, no dia 17 de Julho de 1992, teve seu filho assassinado de forma covarde na Rua Paulo Guilguer Remberg, no Jardim Sabia, divisa dos bairros de Grajaú e Parelheiros. William Bruno de Oliveira, de 8 anos, morreu por asfixia mecânica ao ser afogado em um pequeno poço de água formada em decorrência das chuvas e bancos de areia. Com uma decisão favorável da justiça pode acompanhar o sepultamento do filho, mas, escoltado por diversos policiais, inclusive da Tropa de Choque.

No final de 1992, foi dada sua sentença final, condenação de 75 anos pela Tribunal de Justiça Militar (TJM) e mais 32 pela Justiça Comum, (TJ) totalizando quase 108 anos à cumprir. Na cadeia, começou a pintar quadros, os quais foram expostos em 1998. Em 2002 foi transferido para o presídio que está até hoje o Doutor Augusto César Salgado, em Tremembé, interior de SP. Lá se converteu ao evangelismo e hoje é pastor e capelão chefe da unidade.

No ano de 2009, por ter cumprido ¼ de sua pena, conseguiu o direito ao regime semiaberto, mas não saiu da cadeia, como a P2 de Tremembé tem um regime diferenciado, aonde os presos podem trabalhar dentro da unidade, acabou por ter sua saída negada. Após mais de 20 anos preso, Cabo Bruno saiu da cadeia pela primeira vez há uma semana, na saída temporária do dia dos pais. No entanto, ele pode ser libertado por conta de um decreto assinado pela presidente Dilma Rousseff. Segundo a norma, todo preso que passou mais de 20 anos seguidos na cadeia deve ganhar a liberdade caso tenha tido um bom comportamento.

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