Cabo Bruno, que já cumpriu 1/4 de sua pena, poderá ser beneficiado por decreto assinado pela presidente Dilma Rousseff. Nos anos 80, mais de 50 pessoas foram executadas por ele na zona Sul.
Do Última Hora SP - 17/08/2012 - 15h:58 - Atualizado às 16h:30
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dos 80, mais precisamente 1982, um opala preto para e um homem armado
com uma espingarda calibre 12 efetua vários disparos que atingem
certeiramente homens que estavam em um bar no bairro da Pedreira, em
Cidade Ademar. Esta narrativa é apenas um dos muitos casos com quase
a mesma história que causaram pânico nos bairros periféricos da
zona Sul. O nome dos matadores, o conhecido esquadrão da morte.
Pouco
tempo depois da chacina da Pedreira, descobriu-se o principal
suspeito, Florisvaldo Oliveira, conhecido como Cabo Bruno, soldado da
Polícia Militar, lotado na 1ª Companhia do 1º Batalhão, em Santo
Amaro, também na zona Sul. Depois de detido e interrogado nas salas
do Serviço Reservado (SR) da PM confessou quase 50 execuções,
negadas em juri. Suas principais vítimas, segundo relatos de
vizinhos, PM´s e amigos do soldado eram pequenos ladrões que
incomodavam os comércios e a vizinhança na região da Estrada do
Alvarenga. Os bairros que margeiam a Estrada do Alvarenga são bem
pobres, nos anos 80 estavam longe de terem um bom asfalto, o que
tinha de muito, era a vegetação e a água da Represa Billings, já
o que tinha pouco, e, muito por sinal, era a iluminação e o olhar
do poder público.
Viver
pra aquelas bandas era conviver com o perigo. Ir a um bar a noite por
exemplo, era risco eminente de vida. Foram vários que morrerem sem
ao menos saber o porquê, caminhando pelas ruas escuras eram
alvejados e entravam para as estatísticas de homicídios cometidos
nos bairros de Vila Joaniza, Jardim Selma, Jardim Consórcio,
Cantinho do Céu, Guacuri e Cocaia.
Como
as investigações só tratavam de um homem, que era tratado como
justiceiro, Florisvaldo foi expulso da PM em 1983. Mesmo não fazendo
mais parte da corporação continuou preso no Romão Gomes, presídio
especial onde ficam PM´s que cometem crimes, localizado no Horto,
zona Norte. Não demorou muito e em junho de 1984 conseguiu sua
primeira das três fugas na mesma instituição. Reconduzido, fugiu
novamente em setembro de 1987. Pouco tempo depois já estava preso
novamente. Mas, em 22 de julho de 1990 conseguiu sua fuga
cinematográfica. No mesmo Romão Gomes, Cabo Bruno e mais dois
internos renderam o armeiro do local e saíram pela porta da frente
levando consigo três metralhadoras Beretta 9 milímetros, três
revólveres calibre 38 e 98 projéteis. Desta vez, a caçada ao homem
mais temido do extremo da zona Sul perdurou por quase um ano,
encerrando-se no bairro da Pedreira. No dia em que preparava sua
mudança para uma cidade do interior de São Paulo foi surpreendido
por PM´s à paisana. Rendeu-se, e em 29 de maio de 1991 retornou a
sua cela no Romão Gomes.
Enquanto
cumpria sua pena, que na época era de quase 80 anos, no dia 17 de
Julho de 1992, teve seu filho assassinado de forma covarde na Rua
Paulo Guilguer Remberg, no Jardim Sabia, divisa dos bairros de Grajaú
e Parelheiros. William Bruno de Oliveira, de 8 anos, morreu por
asfixia mecânica ao ser afogado em um pequeno poço de água formada
em decorrência das chuvas e bancos de areia. Com uma decisão
favorável da justiça pode acompanhar o sepultamento do filho, mas,
escoltado por diversos policiais, inclusive da Tropa de Choque.
No
final de 1992, foi dada sua sentença final, condenação de 75 anos
pela Tribunal de Justiça Militar (TJM) e mais 32 pela Justiça
Comum, (TJ) totalizando quase 108 anos à cumprir. Na cadeia, começou
a pintar quadros, os quais foram expostos em 1998. Em 2002 foi
transferido para o presídio que está até hoje o Doutor Augusto
César Salgado, em Tremembé, interior de SP. Lá se converteu ao
evangelismo e hoje é pastor e capelão chefe da unidade.
No
ano de 2009, por ter cumprido ¼ de sua pena, conseguiu o direito ao
regime semiaberto, mas não saiu da cadeia, como a P2 de Tremembé
tem um regime diferenciado, aonde os presos podem trabalhar dentro da
unidade, acabou por ter sua saída negada. Após mais de 20 anos
preso, Cabo Bruno saiu da cadeia pela primeira vez há uma semana, na
saída temporária do dia dos pais. No entanto, ele pode ser
libertado por conta de um decreto assinado pela presidente Dilma
Rousseff. Segundo a norma, todo preso que passou mais de 20 anos
seguidos na cadeia deve ganhar a liberdade caso tenha tido um bom
comportamento.
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