adsense

terça-feira, 2 de outubro de 2012

ESPECIAL: CARANDIRU, 20 anos depois - Tragédias em complexos para infratores mudaram rumo de Carandiru e Imigrantes


Do última Hora SP - 18h:20 - Atualizado às 22h:02
Paulo Eduardo Dias

Não só apenas o Complexo Penitenciário Doutor Flámínio Fávaro - nome dado em homenagem ao médico legista que lutava por direitos mais humanitários aos presidiários - a Casa de Detenção, foi demolido pelo governo do estado no final dos anos 1990, início dos anos 2000. Um grande centro, deste vez para menores, tirava o sono do governador de São Paulo à época, Mario Covas (1995-2001). A Fundação pelo Bem Estar do Menor (FEBEM) Imigrantes, localizada na Rodovia dos Imigrantes, KM 13, no bairro da Água Funda, zona Sul, foi palco de várias rebeliões sangrentas, entre os anos de 1997, 98 e 99, ano de sua desativação. Neste período, os mais diversos conflitos foram registrados no local, internos contra funcionários, apenados e PM e até mesmo em brigas entre si, sendo essas, as que tiveram saldo mais trágico. Muitas fugas também aconteceram na unidade, que ficava colada ao Parque do Estado, no mesmo ponto dos ataques de Francisco de Assis Pereira, conhecido como o Maníaco do Parque. As fugas não tinham data e nem mesmo hora para acontecer. Era comum em dias de fuga haver um reforço de policiamento nas portarias do Jardim Botânico, Zoológico e no Parque Científico da USP, localizados na Avenida Miguel Estefano, o motivo era simples, assim que entravam no meio da mata, a única saída era caminhar em torno de meia hora e chegar à avenida que corta o Parque do Estado e a Fundação Zoológico.

Por diversas vezes, bombeiros e PM´s se deslocavam para controlar as chamas que vinham de fogo em cobertores, colchões e tudo aquilo de inflamável que os internos encontravam. Na FEBEM Imigrantes, estavam os chamados reincidentes e perigosos, também aqueles que já não mais cabiam na superlotada Unidade do Tatuapé, outro grande complexo que enfrentava as mais graves crises. Pelo alto risco, alguns até com mais de 18 anos, o Batalhão de Choque era sempre chamado, e quando ameaçava invadir os menores recuavam, talvez até pelo temor do vivenciado por seus companheiros de grade em 1992.

                            Dado Junqueira/Folha Imagem
Mas os meses de setembro e outubro de 1999 deixaram cicatrizes marcantes na FEBEM Imigrantes. Em apenas 14 dias, quatro fugas foram consumadas na unidade, sendo uma, recorde nacional de incompetência ou até mesmo de facilitação, quando 644 internos tomaram as ruas da região dos bairros de Americanópolis, Cursino, Água Funda e o município vizinho Diadema. Na época da fuga, o complexo abrigava mais de mil menores, com uma capacidade que não chegava a 500. Os esforços do Comando de Operações Especiais, o COE, unidade de elite da PM que também esteve no Massacre do Carandiru, componente do Batalhão de Choque, própria para buscas em matas e locais de difícil acesso eram em vão, umas vez que, assim que voltavam para a unidade, os menores escapavam de novo.

A gota d´água começou na madrugada de 25 de setembro, com a fuga de mais 89 internos. Aqueles que não conseguiram fugir começaram mais um quebra quebra, fogo e bombas. Desta vez, a destruição foi geral, os amotinados tinham reféns funcionários e internos que não seguiam as regras estabelecidas pelos mais fortes. Após horas de rebeldia e já na parte de cima da unidade jogavam telhas e o que tinham em mãos para a parte que se concentravam homens de Choque que aguardavam ordens de Covas, que aquela hora, sonhava em demolir o complexo já totalmente depenado. Naquele momento, três prédios ardiam em fogo e todo o estoque de alimentos, remédios e prontuários estava destruído. O fim da rebelião se deu quando a cabeça de um dos internos mortos foi jogada na parte aonde estava a PM, que nessa hora tomou a iniciativa de conter a rebelião, que além do decapitado terminou com a morte de mais três adolescentes, sendo dois carbonizados. Na mesma semana, o governador Mario Covas desativava a FEBEM Imigrantes.

Assim como o Carandiru, desativado em 2002, para se tornar o Parque da Juventude, o terreno da antiga FEBEM Imigrantes com mais de 167 mil metros quadrados dá vida hoje a um centro esportivo, que segundo a página do governo estadual conta com ginásio de esportes coberto; duas quadras poliesportivas externas; piscina semi-olímpica; campo de futebol society; pista de skate; salas de ginástica, dança e musculação; vestiários e sanitários; enfermaria; e sala de apoio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário