Do
última Hora SP - 18h:20 - Atualizado às 22h:02
Paulo
Eduardo Dias
Não
só apenas o Complexo Penitenciário Doutor Flámínio Fávaro - nome
dado em homenagem ao médico legista que lutava por direitos mais
humanitários aos presidiários - a Casa de Detenção, foi demolido
pelo governo do estado no final dos anos 1990, início dos anos 2000.
Um grande centro, deste vez para menores, tirava o sono do governador
de São Paulo à época, Mario Covas (1995-2001). A Fundação pelo
Bem Estar do Menor (FEBEM) Imigrantes, localizada na Rodovia dos
Imigrantes, KM 13, no bairro da Água Funda, zona Sul, foi palco de
várias rebeliões sangrentas, entre os anos de 1997, 98 e 99, ano de
sua desativação. Neste período, os mais diversos conflitos foram
registrados no local, internos contra funcionários, apenados e PM e
até mesmo em brigas entre si, sendo essas, as que tiveram saldo mais
trágico. Muitas fugas também aconteceram na unidade, que ficava
colada ao Parque do Estado, no mesmo ponto dos ataques de Francisco
de Assis Pereira, conhecido como o Maníaco do Parque. As fugas não
tinham data e nem mesmo hora para acontecer. Era comum em dias de
fuga haver um reforço de policiamento nas portarias do Jardim
Botânico, Zoológico e no Parque Científico da USP, localizados na
Avenida Miguel Estefano, o motivo era simples, assim que entravam no
meio da mata, a única saída era caminhar em torno de meia hora e
chegar à avenida que corta o Parque do Estado e a Fundação
Zoológico.
Por
diversas vezes, bombeiros e PM´s se deslocavam para controlar as
chamas que vinham de fogo em cobertores, colchões e tudo aquilo de
inflamável que os internos encontravam. Na FEBEM Imigrantes, estavam
os chamados reincidentes e perigosos, também aqueles que já não
mais cabiam na superlotada Unidade do Tatuapé, outro grande complexo
que enfrentava as mais graves crises. Pelo alto risco, alguns até
com mais de 18 anos, o Batalhão de Choque era sempre chamado, e
quando ameaçava invadir os menores recuavam, talvez até pelo temor
do vivenciado por seus companheiros de grade em 1992.
Dado Junqueira/Folha Imagem |
Mas
os meses de setembro e outubro de 1999 deixaram cicatrizes marcantes
na FEBEM Imigrantes. Em apenas 14 dias, quatro fugas foram consumadas
na unidade, sendo uma, recorde nacional de incompetência ou até
mesmo de facilitação, quando 644 internos tomaram as ruas da região
dos bairros de Americanópolis, Cursino, Água Funda e o município
vizinho Diadema. Na época da fuga, o complexo abrigava mais de mil
menores, com uma capacidade que não chegava a 500. Os esforços do
Comando de Operações Especiais, o COE, unidade de elite da PM que
também esteve no Massacre do Carandiru, componente do Batalhão de
Choque, própria para buscas em matas e locais de difícil acesso
eram em vão, umas vez que, assim que voltavam para a unidade, os
menores escapavam de novo.
A
gota d´água começou na madrugada de 25 de setembro, com a fuga de
mais 89 internos. Aqueles que não conseguiram fugir começaram mais
um quebra quebra, fogo e bombas. Desta vez, a destruição foi geral,
os amotinados tinham reféns funcionários e internos que não
seguiam as regras estabelecidas pelos mais fortes. Após horas de
rebeldia e já na parte de cima da unidade jogavam telhas e o que
tinham em mãos para a parte que se concentravam homens de Choque que
aguardavam ordens de Covas, que aquela hora, sonhava em demolir o
complexo já totalmente depenado. Naquele momento, três prédios
ardiam em fogo e todo o estoque de alimentos, remédios e prontuários
estava destruído. O fim da rebelião se deu quando a cabeça de um
dos internos mortos foi jogada na parte aonde estava a PM, que nessa
hora tomou a iniciativa de conter a rebelião, que além do
decapitado terminou com a morte de mais três adolescentes, sendo
dois carbonizados. Na mesma semana, o governador Mario Covas
desativava a FEBEM Imigrantes.
Assim
como o Carandiru, desativado em 2002, para se tornar o Parque da
Juventude, o terreno da antiga FEBEM Imigrantes com mais de 167 mil
metros quadrados dá vida hoje a um centro esportivo, que segundo a
página do governo estadual conta com ginásio de esportes coberto;
duas quadras poliesportivas externas; piscina semi-olímpica; campo
de futebol society; pista de skate; salas de ginástica, dança e
musculação; vestiários e sanitários; enfermaria; e sala de apoio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário