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terça-feira, 2 de outubro de 2012

ESPECIAL: Carandiru, 20 anos depois - Carandiru marcou minha infância e ajudou em minha escolha profissional


Do Última Hora SP - 17h:52 - Atualizado às 17h:54
*Paulo Eduardo Dias

Outubro de 1992, ao sair da escola de freiras em que eu estudava, bem próximo ao horário em que este texto é publicado,no bairro de Moema, zona Sul de São Paulo, meu pai liga o velho rádio de seu Chevette marrom. Estamos a caminho de buscar minha mãe no serviço, bem próximo dali, no Paraíso, também zona Sul. Lembro como se fosse hoje, mesmo 20 anos depois. Na altura da Avenida Rubem Berta, o comunicador informa que uma grande rebelião desde o inicio da tarde atinge a Casa de Detenção, segundo ele, há muita fumaça, viaturas, e helicópteros sobrevoando a zona Norte. Até o caminho a encontramos minha mãe, meu pai muda a frequência do rádio por diversas vezes, naquele época nem entendi, mas talvez fosse uma maneira de me desligar daquele mundo, tinha apenas 7 anos. Quando chego em casa, várias notícias na TV dão conta de que aquele episódio não era somente um dos diversos motins que afligem as penitenciárias até hoje.

Só pude ter a noção realmente do que havia ocorrido, na segunda-feira, 5, quando li nos jornais impressos, jornais estes que hoje já não existem mais, como o Notícias Populares, o NP e o Diário Popular, o DIPO. O extermínio cometido por uma polícia higienista estava estampado em fotos e letras garrafais. As fotos mostravam, o que hoje, quando vejo, retratam tiros à queima-roupa. Buracos gigantes, e uma mistura de dor, sangue, suor e água que rajava de canos destruídos. Metralhadoras Beretta, revólveres, escopetas, mordidas de cachorro e corredor polonês contra canos de PVC quebrados, pequenos nacos de pau e alguns estiletes. O Massacre do Carandiru ali entrava em minha vida. No dia em que foram divulgados os nomes das vítimas, li uma por uma, além de suas fotos.

O tempo passou e lá estava o Carandiru de novo em minha vida. Meu irmão mais novo estava para nascer e as consultas de minha mãe eram em um bairro da zona Norte. Quando eu a acompanhava, lá estava ele. Descia na estação Carandiru do metrô, ficava eufórico por estar naquele local, por ser uma estação com a plataforma aberta aos quatro cantos, admirava aquele prédio antigo, como uma cor esfarrapada. Uma cena que não sai de minha cabeça, é de um detento, pendurado na grade de uma janela com os dois pés pra fora, pés estes em liberdade sendo balançado em direção ao vento. Suas mãos seguravam firme e parecia gritar palavras, sem ao menos alguém dar atenção.

Com aqueles textos, fotos e imagens e com uma situação que até hoje ainda não está controlada, escolhi como profissão reportar tais situações que nunca deixarão de acontecer e me matriculei em uma faculdade de jornalismo.

* Jornalista, é repórter e escreve textos para o UHSP

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